Pastor Valmir Farinelli, de empresário no Brasil a Missionário na Itália, pregando no Grande Templo das Assembléias de Deus em Cuiabá, e na primeira fila, de amarelo, uma índia.
A mistura de culturas é uma constante desde a chegada de Colombo às Américas! A sabedoria da liderança das Assembléias de Deus no Mato Grosso está em levar Cristo e não cultura religiosa às tribos e nações do mundo inteiro. De Umutina, reserva indígena na nascente do rio Paraguai, à Siracusa, onde o apóstolo Paulo aportou algumas vezes.
Na outra foto, a indiazinha da Reserva de Brasnorte-MT (500 km à noroeste de Cuiabá) usa fralda descartável durante o culto no Grande Templo das Assembléias de Deus na capital.
Na imagem geral, cocares coloridos e adereços convivem com a impecável gravata vermelha do pastor indígena, sentados lado a lado! Além da miscigenação de raças que aparece no todo. O evangelho é o foco alí!
Ressalto que o espírito do índio tem direito à estar na Jerusalém Celestial pela fé! Assim também como o seu cocar pode embelezar o templo no culto da igreja em festa para Jesus. O que tirou o índio do seu ambiente foi catequese não evangelho!
Transcrevo aqui um trecho do trabalho da prof. Léa, nos 500 anos de Brasil português-católico, usado numa aula de Antropologia Cultural e Missionária, para refletrirmos como é vista a fé do brasileiro na ótica da intelectualidade e dos estrangeiros. E porque os nossos missionários evangélicos são recebidos com reservas na Europa e EUA. O que já não ocorre na janela 10-40! A área menos cristã do mundo!
Breves notas e reflexões sobre a religiosidade brasileira1
Léa Freitas Perez2
“No fundo são misturas. Misturam-se as
almas nas coisas; misturam-se as coisas nas
almas. Misturam-se as vidas, e é assim que as
pessoas e as coisas misturadas saem cada qual
de sua esfera e se misturam: o que é
precisamente o contrato e a troca” (Mauss,
1974:71).
Pequena introdução
Em se tratando de religião em nosso país, a primeira coisa que se costuma
observar é que o brasileiro é profundamente religioso. Diz-se, mesmo, que Deus
é brasileiro e que somos o maior país católico do mundo. Mas observa-se que
nossa religiosidade é muito particular: o brasileiro acende, simultaneamente,
uma vela para Deus e outra para o Diabo. E também se diz que não existe
pecado do lado de baixo do Equador … Essas observações desvelam uma grande
evidência de caráter socioistórico e antropológico.
Sim, o brasileiro não somente é profundamente religioso como também
tem à sua disposição uma fantástica multiplicidade de crenças e práticas
religiosas. A acreditarmos nas maravilhas de nossa natureza tropical, podemos
mesmo crer que Deus é brasileiro, que vivemos em uma terra abençoada pelos
deuses. Todavia, para que tiremos as devidas conseqüências dessas observações
comuns, devemos nos perguntar sobre o caráter dessa religiosidade, sobre o
como ela fala sobre a sociedade em que vivemos.
A primeira consideração a ser feita sobre a nossa religiosidade profunda é
no sentido de qualificá-la: trata-se de uma religiosidade festiva e carnal, vivida
mais teatralmente, publica e coletivamente, do que sentida na solidão do foro
interior, no fundo de si mesmo. E como falar em público, envolvendo o coletivo,
é falar na própria sociedade, vemo-nos na impossibilidade de falar de religião
em nosso país sem falar do próprio Brasil, de sua multiplicidade de modos de
organização da experiência humana em sociedade. Esta diversidade de modos
de organização está na base de nossa formação histórica, marcada e modeladapor uma pluralidade de registros e de códigos: de civilizações (européia,
africana, indígena), de economias (agrária, pastoril, mineira, industrial, etc.), de
religiões (catolicismo, candomblé e todas suas variantes), de personagens
(colonizadores e colonizados, divididos em uma variedade de tipos sociais, tais
como jesuíta, senhor de engenho, grande fazendeiro, minerador, gaúcho,
escravo negro, índio, mestiço, caboclo, doutor, malandro, etc.), de paisagens
(litoral, sertão, pampa, caatinga, engenho de açúcar, fazenda de criação, minas,
diferentes tipos de cidade, etc.). Trata-se, portanto, de um universo
caracterizado por uma pluralidade de vozes, de paisagens e de formas de
organização que compõe estruturalmente a sociedade brasileira, moldando o
seu perfil. Vale dizer que a multiplicidade está na sociedade, no interior de seu
tecido. Ela é um estado da sociedade, uma estrutura social irredutível a uma
unidade global fixa e imutável, fato claramente observado por Jean Duvignaud,
quando diz que o Brasil “é uma nação e que seus habitantes se afirmam
brasileiros, mas a multiplicidade de grupos e de solidariedades originais não se
funda numa imagem global que seria abstrata e vaga”, porque “o vivido coletivo
resiste à redução”, na medida em que uma “superabundância afetiva, sensual,passional, acompanha o comércio dos homens, [eu acrescentaria, igualmente o
comércio com o sagrado] da violência à ternura freqüentemente desafiando
estatísticas ou classificações” (Duvignaud, 1992: 7, 8).
1 Este textofoi publicado na Edição Especial, Brasil 500 anos. junho de 2000. Belo Horizonte,
Imprensa Oficial dos Poderes do Estado, pp. 40-58.
2 Antropóloga, professora adjunta do Departamento de Sociologia e Antropologia da
FAFICH/UFMG.
Léa Freitas Perez2
“No fundo são misturas. Misturam-se as
almas nas coisas; misturam-se as coisas nas
almas. Misturam-se as vidas, e é assim que as
pessoas e as coisas misturadas saem cada qual
de sua esfera e se misturam: o que é
precisamente o contrato e a troca” (Mauss,
1974:71).
Pequena introdução
Em se tratando de religião em nosso país, a primeira coisa que se costuma
observar é que o brasileiro é profundamente religioso. Diz-se, mesmo, que Deus
é brasileiro e que somos o maior país católico do mundo. Mas observa-se que
nossa religiosidade é muito particular: o brasileiro acende, simultaneamente,
uma vela para Deus e outra para o Diabo. E também se diz que não existe
pecado do lado de baixo do Equador … Essas observações desvelam uma grande
evidência de caráter socioistórico e antropológico.
Sim, o brasileiro não somente é profundamente religioso como também
tem à sua disposição uma fantástica multiplicidade de crenças e práticas
religiosas. A acreditarmos nas maravilhas de nossa natureza tropical, podemos
mesmo crer que Deus é brasileiro, que vivemos em uma terra abençoada pelos
deuses. Todavia, para que tiremos as devidas conseqüências dessas observações
comuns, devemos nos perguntar sobre o caráter dessa religiosidade, sobre o
como ela fala sobre a sociedade em que vivemos.
A primeira consideração a ser feita sobre a nossa religiosidade profunda é
no sentido de qualificá-la: trata-se de uma religiosidade festiva e carnal, vivida
mais teatralmente, publica e coletivamente, do que sentida na solidão do foro
interior, no fundo de si mesmo. E como falar em público, envolvendo o coletivo,
é falar na própria sociedade, vemo-nos na impossibilidade de falar de religião
em nosso país sem falar do próprio Brasil, de sua multiplicidade de modos de
organização da experiência humana em sociedade. Esta diversidade de modos
de organização está na base de nossa formação histórica, marcada e modeladapor uma pluralidade de registros e de códigos: de civilizações (européia,
africana, indígena), de economias (agrária, pastoril, mineira, industrial, etc.), de
religiões (catolicismo, candomblé e todas suas variantes), de personagens
(colonizadores e colonizados, divididos em uma variedade de tipos sociais, tais
como jesuíta, senhor de engenho, grande fazendeiro, minerador, gaúcho,
escravo negro, índio, mestiço, caboclo, doutor, malandro, etc.), de paisagens
(litoral, sertão, pampa, caatinga, engenho de açúcar, fazenda de criação, minas,
diferentes tipos de cidade, etc.). Trata-se, portanto, de um universo
caracterizado por uma pluralidade de vozes, de paisagens e de formas de
organização que compõe estruturalmente a sociedade brasileira, moldando o
seu perfil. Vale dizer que a multiplicidade está na sociedade, no interior de seu
tecido. Ela é um estado da sociedade, uma estrutura social irredutível a uma
unidade global fixa e imutável, fato claramente observado por Jean Duvignaud,
quando diz que o Brasil “é uma nação e que seus habitantes se afirmam
brasileiros, mas a multiplicidade de grupos e de solidariedades originais não se
funda numa imagem global que seria abstrata e vaga”, porque “o vivido coletivo
resiste à redução”, na medida em que uma “superabundância afetiva, sensual,passional, acompanha o comércio dos homens, [eu acrescentaria, igualmente o
comércio com o sagrado] da violência à ternura freqüentemente desafiando
estatísticas ou classificações” (Duvignaud, 1992: 7, 8).
1 Este textofoi publicado na Edição Especial, Brasil 500 anos. junho de 2000. Belo Horizonte,
Imprensa Oficial dos Poderes do Estado, pp. 40-58.
2 Antropóloga, professora adjunta do Departamento de Sociologia e Antropologia da
FAFICH/UFMG.
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